Uma estação de metrô com 115 anos de serviços prestados. Bir-Hakeim está bem próxima da Torre Eiffel, um dos símbolos mundiais e que passou a ser servida por esta parada do secular serviço de trens subterrâneos parisiense 17 anos após sua inauguração, em 1889.
Em Paris tudo transpira história e acontecimentos importantes da trajetória humana, e não há como escapar do monumento engenhosamente concebido por Gustav Eiffel e que seria palco das aventuras de Santos Dumont ou teria uma bandeira nazista hasteada em seu topo, no infame 1940.
Quando você sobe as escadas da velha estação, começa a sentir o frenesi que envolve os locais que são alvo de grande atenção das pessoas. É assim em estádios que sediam finais de campeonato, Olimpíadas, Copas. A atmosfera se transforma, e a aura de Cidade-Luz se desvanece; Paris encontra a Luz. Melhor: Paris encontra Carapicuíba.
Onde há acúmulo de gente, há acúmulo de incautos. Superpopulação? Uma infinidade de possibilidades de malandros se servirem dos mais ingênuos sentimentos humanos. A primeira esquina, a primeira banquinha. Já me veio à mente Gilmar e suas tampinhas. 3 delas, uma bolinha. Vários comparsas, alguns otários, e o dinheiro fácil que os incautos queriam ganhar troca de mãos. Universal golpe, esse das tampinhas. Em Paris são copos de alumínio, do tamanho daqueles copos de pinga de boteco pé-sujo. E não as tampinhas achatadas, forminhas de empada, do Brasil. Mas o entorno é o mesmo: em frente ao manipulador, o cara que agita, o apostador (falso), um ou dois para dar cobertura, e está armada a cena, apenas esperando a chegada dos incautos.
A maior diferença é que, se em Carapicuíba o Gilmar tinha o monopólio da banquinha em frente à estação de trem, em Bir-Hakeim há uma verdadeira Copa do Mundo com várias sedes. Depois da oitava, parei de contar. Africanos, europeus, asiáticos, americanos, todos representados ao redor de um dos monumentos mais concorridos do planeta. 
Muitas vezes, ao voltar a Carapicuíba, encontrava o Gilmar, que fazia um cumprimento e logo se misturava ao enxame de camelôs, prostitutas, traficantes e trabalhadores que povoavam o Terminal. Resistiu a balas, facas, achaques, prisões, enganados revoltados (um amigo meu, certa vez, cismou de que conseguiria levar a melhor nas tampinhas. Tentei demovê-lo, mas quem convence um adolescente?) e viveu bastante, mas creio que não esteja mais lá para que eu possa lhe dizer como seu ofício é cosmopolita e bem-sucedido no principal destino turístico da Terra. Gilmar, sabe que fiquei com vontade de te ver mostrando a arte brasileira do trambique em Paris?



ROBERTO VIEIRA

Roberto Vieira é diretor da BRio, radialista, publicitário e autor de No Tempo do Mundo - Crônicas de um Locutor que Escreve, disponível para compra em https://amzn.to/2ZGGt09

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