(divulgação)


Era impossível não embarcar na letra que escrevia um romance em pouco mais de quatro minutos. Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E Renato Russo, mesmo os críticos vão concordar, fazia as coisas com esta motivação. 

Imaginar como eram Eduardo e Mônica, fisicamente, recriar as cenas que se sucediam na letra quilométrica (ainda não havia Faroeste Caboclo, ou pelo menos, não a conhecíamos), se Eduardo tinha uma família que não o avô, por que diabos Mônica teria tinta no cabelo e, aproveitando a rima, o camelo era só uma saída para que ela acontecesse? Seria uma digressão surrealista colocar o animal em um parque de Brasília? Não, nada sabíamos do DF que não fossem as armações, mutretas, e a obra de Niemeyer e Costa. Muito menos suas gírias. 

As bandas que saíram de BSB ajudaram a humanizar aquela parte do país que nos era tão cara, em todos os sentidos. E Eduardo e Mônica, a música, conferiu uma certa poesia que não fosse o concreto. Nem poesia concretista, era. Na verdade, Renato escrevia em forma de prosa. E Eduardo e Mônica, o filme, consegue tirar do concreto muita poesia. A cena em que os ótimos protagonistas escalam a fachada do Teatro Nacional é lírica, inventiva e, agora sabemos, corriqueira entre a turma da Colina, como o jogo de sombras no Congresso, que não é mais permitido. Não devia ser tão ruim ser adolescente na Capital, como a galera do Capital, da Plebe, da Legião e outras faziam crer. 

Na verdade, a geração X vai ver o filme com um misto de nostalgia e orgulho. As meninas vão se identificar com a rebeldia responsável que a personagem da certeira Alice Braga impõe, enquanto nós vamos enxergar nossa imaturidade e doçura juvenis no cativante Gabriel Leone. E mesmo sabendo que tudo daria tão certo que o filhinho de Eduardo (relaxado na escola, como bom integrante do fundão que o pai, e nós, fomos) de recuperação impediria a viagem de férias dos dois, continuamos a torcer pelo casal. É o que o cinema fazia de melhor, antes de ser solapado por uma infantilização disney-marveliana que empurrou os adultos para séries como Better Call Saul ou mesmo Euphoria, que adolescentes mais exigentes podem ver sem demérito de suas capacidades mentais.

Eduardo e Mônica nos transporta para os melhores anos de nossas vidas. Quem diria que sentiríamos saudades de um país governado por Sarney?



ROBERTO VIEIRA

Roberto Vieira é diretor da BRio, radialista, publicitário e autor de No Tempo do Mundo - Crônicas de um Locutor que Escreve, disponível para compra em https://amzn.to/2ZGGt09

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