O rádio viveu sua era de ouro entre as décadas de 1940 e 1950, e convive, desde então, com a perspectiva de seu fim, seja pelo advento da televisão, seja pela internet. Apesar de não ter se preocupado com a renovação de sua audiência, foi se baseando na adaptação aos modismos da música, seu principal produto. A TV, que de algoz passou a ser companheira de infortúnio, superada pela velocidade com que a internet mudou hábitos das novas gerações, tem enormes dificuldades para sobreviver em um mundo condicionado pela máxima do on-demand, que, desde os nativos digitais da geração Z, habituou os novos consumidores de meios de comunicação à comodidade de uma oferta cada vez mais volumosa e acessível, a qualquer hora. 

15 anos atrás, criei um programa de música que pudesse juntar pais e filhos para um momento de ouvir música, formando novos consumidores da melhor produção feita para esta faixa etária, preocupado com o fato de que o rádio pouco se atentou para a necessidade de rejuvenescer sua audiência, contando que, ao se tornarem adultos, naturalmente procurariam música nas emissoras voltadas para os jovens. Veio o Spotify. A TV, na mesma época, em sua principal emissora, a Globo, abriu mão de sua faixa infantil, motivada pela dificuldade de atrair novos anunciantes, já que a legislação relativa à publicidade para crianças se tornava cada vez mais rígida. O resultado é visível: a tv aberta foi abandonada por toda uma geração. E sua audiência envelhece a olhos vistos. Vendo de forma pessimista, a tv aberta ameaça morrer junto aos seus últimos telespectadores.

Mas há resistência: inteligentemente, a TF1, que equivale à Globo na França, tem em seu quiz da hora do almoço uma audiência que chega a 4 milhões de telespectadores (lembrando que trata-se de um país com um terço da população brasileira). Les 12 Coups de Midi alcança seu maior share justamente no público entre 15-24 anos, com 42% dos telespectadores. Como se faz isso? O protagonista atual é um competidor de 20 anos. Na plateia, frequentemente, crianças. Que são igualmente incentivadas a mandar perguntas para serem respondidas no ar. E ainda mandam desenhos que o apresentador, Jean-Luc Reichmann, mostra diariamente. Simples e eficaz.

No mesmo horário, no Brasil, a Globo tem Ana Maria Braga, e depois, os telejornais regionais. No Paraná, apresentado por uma dupla de meia idade. Com pouquíssimas alusões ou apelos a crianças e adolescentes. Você pode estar se perguntando como tornar um jornal atraente a esta faixa etária. A resposta pode vir da Paraíba: lá, um apresentador mais jovem convida uma repórter recém-formada a trazer dicas para o ENEM, semanalmente. Nas plataformas digitais, material para ajudar quem está no terceiro ano do ensino médio a se preparar para a prova. A TV Cabo Branco, de João Pessoa, ainda usa sua fatia de programação aos sábados para veicular desenhos animados -sim, a mesma receita da qual a Globo abdicou ao rifar sua faixa infantil.

Não é possível dizer ainda que a tv aberta está com dias contados. Mas se não tratar de rejuvenescer seu público, certamente eles serão mais curtos do que nós, que vivemos sua era de ouro nos anos 1980, pensávamos.

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